Autossabotagem

A natureza humana tem, como padrão, resolver os problemas que acontecem. Até param a vida por causa de algo não resolvido.

Então, em muitas situações, é mais fácil eu não admitir que existe um problema. Ou mesmo deslocar o problema para o outro. Aí a responsabilidade passa a ser de outra pessoa. Fica mais fácil desta forma, pois não precisamos fazer absolutamente nada, afinal de contas, o problema não é meu.

E o problema (como todo bom problema), se não resolvido, aumenta em tamanho, gravidade, impacto, etc. E enquanto não admitirmos que é um problema nosso, continuará sendo desprezado.

Mas há um outro tipo de sabotador que é igualmente perigoso. É aquele que admite a existência do problema, assumindo como realmente seu. Mas não se considera capaz de nem tentar resolver, incapaz de dar ao menos o primeiro passo em direção da solução. E ainda assim quer ter o problema resolvido (pelos outros).

As vezes recorre a uma terapia (que é um excelente passo para solucionar), mas quando o terapeuta o confronta com questionamentos de si mesmo (sem nem indicar o caminho a ser seguido), começa a ver uma série de problemas com a terapia (as vezes até enxerga mil defeitos no terapeuta para que se justifique a desistência da terapia). Afinal de contas, fazendo a terapia é esperado que o terapeuta arranque o sofrimento, com um remédio milagroso. Quando descobre que este trabalho é da própria pessoa e que o terapeuta não fará isto em momento algum, se esforça para deixar a terapia.

A autossabotagem é algo muito comum. São raras as pessoas que não se utilizam deste “método” na tentativa de abreviar seus próprios problemas. Então, se este é seu caso, saiba que existe solução.

Até agora pontuei o problema. Ainda existem inúmeras formas de mostrar o mesmo problema. É sempre o mesmo modus operandi: Evitar o contronto de si mesmo por ser muito desconfortável.

Vamos tecer alguns caminhos para a solução. A primeira delas (e não poderia deixar de ser) é a terapia. Procurar um psicólogo e expor o seu problema, expor a sua vida. As vezes isto parece desconfortável, porque é um estranho e vou estar expondo minha vida a ele. Mas é um estranho que tem um código de ética a seguir. Então a sua vida não será, em momento algum, exposta a quem quer que seja. Então pode confiar. A partir do momento em que a preocupação com a postura do psicólogo não existir mais, a terapia começa. O psicólogo é uma pessoa que vai te compreender, ver o seu lado na história, não vai te julgar em nada (por mais absurdas que sejam suas atitudes), não vai revelar o que conversaram durante a terapia (nem para parentes próximos) e sempre vai te questionar, sem te influenciar, sobre sua forma de pensar. O psicólogo nunca vai te indicar um caminho, nunca vai te dar uma solução. Isto é sempre feito por você mesmo.

Quando o problema se tornou mais grave, chegando a uma ansiedade mais profunda, ou uma depressão, o psicólogo pode achar por bem indicar o caso para um psiquiatra, para que haja um auxílio aravés de medicamentos. E aí o caso passa a ser acompanhado não apenas pelo psicólogo, mas pelo psiquiatra também.

Uma pessoa que se sabota e que concorda que precisa de terapia, arranja muitas desculpas (chamadas de empecilhos) para não fazer terapia. As mais comuns são:

  • Me falta tempo. Hoje em dia são poucas as pessoas que tem tempo sobrando. Mas, ao mesmo tempo, se eu não tiver tempo para mim mesmo, para minha saúde, vou estar sendo injusto. Tenho tempo para tudo, menos para cuidar de mim.
  • Não tenho dinheiro. Sim, este é um problema que acomete a maioria da população. Mas existem terapias com preço social. Algumas chegam ao preço de aproximadamente R$30,00 (trinta reais) por mês. Convenhamos, isto não é muito.
  • Não quero sair de casa. Em tempos de pandemia, quarentena, isolamento social, as terapias estão sendo feitas de forma online. Ou seja, basta um celular ou computador com acesso a internet e a terapia acontece normalmente.

Até agora não encontrei nenhum argumento que fosse válido o suficiente para justificar não fazer terapia.

Paralelamente a tudo isto, existem atitudes benéficas, que auxiliam muito o processo terapeutico:

  • Se é uma pessoa religiosa, buscar o templo religioso de sua preferência, buscar o contato com aquilo que considera Divino.
  • Fazer exercícios físicos com regularidade. Que seja uma simples caminhada de 15 minutos, mas se feita com regularidade tem o efeito desejado.
  • Cuidar da alimentação. Não podemos sair comendo tudo o que aparece na frente. Procurar alimentos saudáveis.
  • Meditação. Se já fez alguma vez, retomar a atividade. Se nunca fez, procurar saber como faz e começar. O importante é a regularidade, faça com dia e hora marcada (exemplo: toda quinta-feira das 20:00 as 21:00). É um compromisso consigo mesmo.
  • Estar no meio de pessoas agradáveis. Valorizar momentos comuns com estas pessoas. Almoço em família, café da manhã com alguém que lhe é importante, assistir um programa de TV junto de pessoas agradáveis. A socialização é um fator muito importante.

Tudo isto são atitudes que, em conjunto com a terapia, facilitam e abreviam o processo terapeutico.

Se avalie, se reconheça, se conheça. Admita para si mesmo seus problemas e procure ajuda. Vai sempre encontrar.